segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

POETAS

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Florbela Espanca.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ontem foi aniversário de nascimento e morte de Florbela (1834-1930).
Cantigas leva-as o vento...

A lembrança dos teus beijos

Inda na minh'alma existe,

Como um perfume perdido,

Nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito

E de tal suavidade,

Que mesmo desapar'cido

Revive numa saudade!

Florbela Espanca

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

FLORBELA EM: TROCANDO OLHARES...

Não faz muito tempo que tive conhecimento da obra de Florbela, mas desde o primeiro momento, apaixonei-me por ela. Hoje, Florbela faz parte do meu dia. Seus versos, frases e poemas habitam minha mente diariamente...
Não é por acaso que este blog começou com sua história e poemas recitados por Miguel Falabella, aliás, os meus preferidos (esta lá no ínicio, quem não viu, dê uma espiadinha...), Florbela me despertou para a poesia, sua intensidade e paixão transformadas em palavras me faz viajar em seus versos, por isso é ela, a principal inspiração deste blog.
Neste mês, quero dividir com vocês alguns dos poemas de Florbela Espanca de seu manuscrito intitulado "Trocando Olhares". Espero que apreciem estes versos maravilhosos, escritos por esta mulher que viveu muito à frente de seu tempo.
Abraço a todos!
DEDICATÓRIA DO MANUSCRITO TROCANDO OLHARES
"É só teu o meu livro; guarda-o bem;
Nele floresce o nosso casto amor
Nascido nesse dia em que o destino
Uniu o teu olhar à minha dor!"

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

OS MEUS VERSOS

Lestes os meus versos? Leste? E advinhastes
O encanto supremo que os ditou?
Acaso, quando os leste, imaginaste
Que era o teu esse olhar que os inspirou?
Advinhaste? Eu não posso acreditar
Que advinhasses, vês? E até, sorrindo,
Tu disseste pra ti: "Por um olhar
Somente, embora fosse assim tão lindo,
Ficar amando um homem!... Que loucura!"
- Pois foi o teu olhar, a noite escura,
(eu só a ti o digo, e muito a medo...)
Que inspirou esses versos! Teu olhar
Que eu trago dentro d'alma a soluçar!
.............................................................
Ai não descubras nunca o meu segredo!
Florbela Espanca.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quando me amei de verdade...


Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.


Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades. Hoje sei que isso é... Autenticidade.


Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de... Amadurecimento.


Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é... Respeito.


Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama... Amor-próprio.


Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é... Simplicidade.


Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes. Hoje descobri a... Humildade.


Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.


Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é... Saber viver!!!


Charles Chaplin

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O CAMINHO SECRETO DAS GAIVOTAS

Hoje a ilha acordou abraçada ao vento
A chuva derramou um rio de contas de água
Hoje uma roseira esqueceu-se de florir
Hoje uma alma suspirou uma profunda mágoa
Quantos caminhos tem um coração
De quantas Luas se faz uma espera
De quantos sortilégios se faz a assombração
De quantas cores se pinta a quimera?
O mar acordou zangado
Açoitou as pedras em frenesim de sal
A espuma ornamentou a ilha em diadema
Afugentou para as profundezas a investida do mal
Hoje os pássaros guardaram o canto
As folhas cobriram a terra
Os deuses enviaram o vento tempestuoso
Declarar ao verde uma furiosa guerra
Estas vagas galgaram o colo da costa
Um ninho resiste ao agreste do tempo
Uma giesta dobra-se ao fustigo
Uma hortênsia eclode no negro basalto
O amor procura o aconchego
Duas almas suspiram em entrega total
Explode a paixão, enlouquece o querer
O amar às vezes é pecado mortal......
Às vezes uma intensa alucinação
Em que viajas pelo meu eu
Às vezes o mundo fica em espera
Da união do mar com o céu
Onde param os teus anseios
Onde encontras a sublime calma
Nestes dias de dura tormenta
Onde aqueces a tua alma?
E eu que não desisto de amar o mar
E eu que vivo prisioneiro do horizonte
E eu que vagueio na crista do sonho
E eu que arrocho esta alma inconstante
Uma alma que corre o mundo de lés a lés
Tal como este vento que varre as encostas
Viajo na distância de um beijo perdido
No...Caminho Secreto das Gaivotas...
O PROFETA

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Coisas que a vida ensina depois dos 40


Amor não se implora, não se pede não se espera... Amor se vive ou não.

Ciúmes é um sentimento inútil. Não torna ninguém fiel a você.

Animais são anjos disfarçados, mandados à terra por Deus para mostrar ao homem o que é fidelidade.

Crianças aprendem com aquilo que você faz, não com o que você diz.

As pessoas que falam dos outros pra você, vão falar de você para os outros.

Perdoar e esquecer nos torna mais jovens.

Água é um santo remédio.

Deus inventou o choro para o homem não explodir.

Ausência de regras é uma regra que depende do bom senso.

Não existe comida ruim, existe comida mal temperada.

A criatividade caminha junto com a falta de grana.

Ser autêntico é a melhor e única forma de agradar.

Amigos de verdade nunca te abandonam.

O carinho é a melhor arma contra o ódio.

As diferenças tornam a vida mais bonita e colorida.

Há poesia em toda a criação divina.

Deus é o maior poeta de todos os tempos.

A música é a sobremesa da vida.

Acreditar, não faz de ninguém um tolo.

Tolo é quem mente.

Filhos são presentes raros.

De tudo, o que fica é o seu nome e as lembranças a cerca de suas ações.

Obrigada, desculpa, por favor, são palavras mágicas, chaves que abrem portas para uma vida melhor

O amor... Ah, o amor...

O amor quebra barreiras, une facções,destrói preconceitos,cura doenças...

Não há vida decente sem amor!

E é certo, quem ama, é muito amado.

E vive a vida mais alegremente...

Artur da Távola

terça-feira, 22 de setembro de 2009



"Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós."


sábado, 19 de setembro de 2009

O que se aprende com o passar do tempo...

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes, não são promessas.
E começa a aceitar suas derrotas de cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...
E aceita quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoa-lo por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se levam anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pois pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influencia sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tomar à pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa aonde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que seres são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.
Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são umas bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobre que se por que alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que se julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importe em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não vai parar para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!
Não sei de quem é este texto, mas é um dos meus preferidos.
Desejo um ótimo final de semana para todos!
manu

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Com o tempo você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar , não precisar dela.
Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o alguém da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

domingo, 23 de agosto de 2009

Atendendo a pedidos, o Dom das Palavras, quer dizer a todos que fica!
Obrigada a todos os amigos pelo imenso carinho recebido.
Abaixo, um pouco mais da poesia deste adorável poetinha gaúcho, Mário Quintana


Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.
Mário Quintana

domingo, 7 de junho de 2009

SONETO N° 1 - De seu primeiro livro (A rua dos Cata-ventos)

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons ...acerta ...desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando nas folhagens!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúveu no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

domingo, 24 de maio de 2009

O MENSAGEIRO


Sou coração que segue em silêncio

Nos fios do sublime pensamento

Pela ressurreição de um sorriso

Renasço nas asas do tempo


Esta Terra é degredo dos sonhos

É espelho que distorce o sentimento

É castigo no julgamento do fracasso

É fogo que se cala a todo o momento


Perde-se no tempo

Este aceso archote de magnética paixão

Muito para além da terra se repete

Esta muda melodia de eterna solidão


Cheguei a meio de um longo inverno

Não tenho no céu uma estrela guia

Uma sombra às vezes procura a luz

O Sol recolhe a claridade ao fim do dia


Na noite

Oiço as vozes dos filhos da Terra

O cantar das águas de uma lagoa

O murmúrio das pedras em suave espera


O canto das flores solto no espaço

Afastei-me à muito da procissão da vida

A carícia de ondulante brisa nocturna

Abriu em minha alma uma força incontida


No abandono de uma nuvem de Anjos

Fiquei proibido das minhas recordações

O sortilégio da vida tocou-me em sorte

Senti o frio deste mar de contradições


Perdi as asas, a harpa de ouro

Pisei o frio da terra molhada

Com trémula mão toquei uma flor

Afastei a bruma desta alma assombrada


Percorri todas as estações

Lutei contra mil desejos insatisfeitos

Percorri a distância de cada verdade

Varri os sonhos incompletos


Falei a todos da virtude do amor

Ignorei o ódio, a raiva é sentimento derradeiro

Sou uma flor que eclodiu das pedras

Uma estranha criatura de Deus ou…Um Mensageiro…
O Profeta

quarta-feira, 13 de maio de 2009

RECORDEI-ME




Sou palavra perdida no silêncio

Gerada no ventre do Mar

Grinalda de perdidos sonhos

O passado do verbo amar



Amei!

Voar na chegada de cada Primavera

Pintar de luz as cores do verão

Pisar o tapete das folhas de Outono

Acender em cada inverno uma fogueira de paixão



Amei!

A tua respiração a bater em meu rosto

Habitei o alto de branca montanha

Procurei-te no Mundo até ao Sol-posto



Ouvi murmúrios em cada sonho

Sonhei-te esculpida em alva espuma

Um diadema de estrelas-do-mar

Coroou-te Deusa da Bruma



Naveguei em mar de nuvens

Com leme de incerto rumo

Velas impaciente nos mastros

Vento fugindo do Sol a prumo



Fugi!

Desta ilha na procura do sonho

Caiu sobre mim o tempo

Naveguei num Oceano profundo



Cavalguei tempestades medonhas

Construí uma torre de areia

De lábios frios, saíram palavras abrasadoras

Procurei a paz à luz de uma candeia



Dormi com a terra

Lavei a contradição em águas claras

Um grito brotou do fundo da minha alma

Espalhei no vento as minha mágoas



Voltei!

A uma espera de silêncio

Um cais de negras pedras acolheu-me

Subi a um vulcão adormecido

Abri os braços ao celeste…recordei-me…

O Profeta.

sábado, 4 de abril de 2009

ALMA NOVA

O Dom das Palavras homenageia neste mês, um mago na arte da poesia, nosso amigo Armando Moreira do blog "O Profeta".

Quem quiser conhecer um pouco mais deste belo trabalho e adquirir suas obras, pode acessar ao site:
ALMA NOVA

Uma alma paira na brisa
A beleza mora no feliz pensamento
Murmurada oração toca os meus ouvidos
A palavra sai do peito em sentimento

Os pássaros alegram-se na tua passagem
Ainda tão breves são os dias
Já teus olhos bebem as virtudes do Sol
Já sorris no abraço que ao sentir confias

Na aurora do teu próprio dia
És alegria que a alma desperta para o alto
És harpa tocada por querubim
Uma flor azul que eclode do basalto

Olhos brilhantes marejados de fé
Estola de verde esperança
Braços abertos ao ritual sagrado
A palavra eleva-se plena de confiança

- Aqui nos reunimos irmãos
Para dar um sacramento a esta menina
Fazer dela filha de Deus
Para que viva na fé desde pequenina

Acenda-se uma vela no Círio Pascal
A chama sagrada teu caminho ilumina
Guiará dia a dia em esperança
Sou sentinela da vontade divina

Porque Pai-nosso que no Céu estás
Protegei estas almas inquietas
Fazei descer a tua luz
Para que estas almas sejam despertas

- Maria, em nome do Pai e do Filho
Do Divino Espírito Santo
Eu te baptizo com esta água benta
Que caiu do céu em suave pranto

Com este óleo sagrado
Unjo em cruz a tua testa
Crepita o incenso no fogo
Anunciando divina festa

Ergo ao céu esta criatura
Apresento-vos a fé que se renova
Uma salva de palmas para a Maria
A Terra ganhou uma…Alma Nova…
O Profeta

domingo, 22 de março de 2009

Conto de Fadas


Eu trago-te nas mãos o esquecimento

Das horas más que tens vivido, Amor!

E para as tuas chagas o ungüento

Como que sarei a minha própria dor.



Trago no nome as letras duma flor...

Foi dos meus olhos garços que um pintor

Tirou a luz para pintar o vento...



Dou-te o que tenho: o astro que dormita,

O manto dos crepúsculos da tarde,

O sol que é de oiro, a onda que palpita.



Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!

- Eu sou Aquela de quem tens saudade,

A princesa do conto: "Era uma vez..."

Florbela Espanca

sábado, 14 de março de 2009

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca




domingo, 8 de março de 2009

Parabéns a todas as mulheres pelo seu dia!

"Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar 'the big one', aquele que será inteligente, máculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais... Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo?
Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. também é louca. E fascinante..."
Trecho da crônica "Doidas e Santas" da escritora Martha Medeiros.

Um feliz dia das mulheres!

quinta-feira, 5 de março de 2009

Súplica


Olha pra mim, amor, olha pra mim;
Meus olhos andam doidos por te olhar!
Cega-me com o brilho de teus olhos
Que cega ando eu há muito por te amar.
O meu colo é arrninho imaculado
Duma brancura casta que entontece;
Tua linda cabeça loira e bela
Deita em meu colo, deita e adormece!
Tenho um manto real de negras trevas
Feito de fios brilhantes d'astros belos
Pisa o manto real de negras trevas
Faz alcatifa, oh faz, de meus cabelos!
Os meus braços são brancos como o linho
Quando os cerro de leve, docemente...
Oh! Deixa-me prender-te e enlear-te
Nessa cadeia assim eternamente! ...
Vem para mim,amor...Ai não desprezes
A minha adoração de escrava louca!
Só te peço que deixes exalar
Meu último suspiro na tua boca!...
Florbela Espanca

terça-feira, 3 de março de 2009

Amar


Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui...além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente Amar!

Amar!E não amar ninguém!


Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!


Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!


E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...


Florbela Espanca

domingo, 1 de março de 2009

OS MEUS VERSOS

Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!…

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente…
Rasgas os meus versos…
Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!…

Florbela Espanca - A mensageira das violetas

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


Minh'alma, de sonhar-te anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!...
Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
Ah! podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: princípio e fim!...
Florbela Espanca

domingo, 22 de fevereiro de 2009

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Um pouco da história de Florbela Espanca

No dia 8 de dezembro comemorou-se mais um ano do nascimento de Florbela Espanca, ícone da poesia em língua portuguesa.

Seus versos expressam um erotismo e uma liberdade pioneiros na poesia do seu país.

Excelente sonetista, Florbela expressa suas emoções em linguagem telúrica, de imagens fortes, impregnadas de verdade física e arrebatamento.
Sua poesia caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito.

A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico.

Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza.

Florbela d’Alma da Conceição Espanca nasceu em Vila Viçosa, no Alto Alentejo, em 8 de dezembro de 1894, a Rua do Angerino, em casa de sua mãe, Antônia da Conceição Lobo. O pai, João Maria Espanca, era casado com outra mulher mas, como deste casamento não houvesse filhos, estabeleceu uma relação com Antônia e dessa relação nasceram dois filhos: Florbela e Apeles.

Nos registros da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa consta Florbela como "filha ilegítima de pai incógnito". O mesmo acontecendo com seu único irmão, Apeles, nascido em 10 de março de 1897.
Em 1899 Florbela já freqüenta o curso primário.Data de 11 de novembro de 1903 o poema A vida e a morte – ao que tudo indica o primeiro de sua autoria. Ingressa, em 1908, no Liceu de Évora, onde permanecerá até 1912.
No dia de seu aniversário no ano de 1913, Florbela casa-se, no Registro Civil de Vila Viçosa, com Alberto de Jesus Silva Moutinho que havia sido seu colega de classe desde o curso primário.
Em abril de 1916, seleciona, dentre a sua produção poética, cerca de 30 peças produzidas a partir de maio de 1915, com as quais inaugura o projeto Trocando Olhares.
Em outubro de 1916, desde setembro vivendo em Lisboa e financiada pelo pai, matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que abandonará em meados de 1920: dentre os 347 alunos inscritos, apenas 14 são mulheres.
Em junho de 1919 faz publicar o Livro de Mágoas, com as dedicatórias:"A meu pai. Ao meu melhor amigo." e "À querida Alma irmã da minha. Ao meu irmão." Logo depois começa a trabalhar em novo projeto Livro de Soror Saudade, publicado em 1923.
No dia 30 de abril de 1921 é assinado o divórcio de Florbela e Moutinho. Dois meses depois se casa com o alferes de artilharia da Guarda Republicana, Antônio José Marques Guimarães.
Em 1925 divorcia-se de Antônio Guimarães. Ainda em 1925, em Matosinhos, Florbela casa-se com Mário Pereira Lage, médico.
Em 1930, com poemas e contos, inicia a colaboração na recém-fundada revista Portugal Feminino, na Civilização e no Primeiro de Janeiro.
Em seu Diário do Último Ano, Florbela expressa o estado de solidão em que se vê mergulhada: "O olhar dum bicho comove-me mais profundamente que um olhar humano...Num grande esforço de compreensão, debruço-me, mergulho os meus olhos nos olhos do meu cão...Ah, ter quatro patas e compreender a súplica humilde, a angustiosa ansiedade daquele olhar!...”
E não há de ser por acaso que Florbela se faz acompanhar de tal imagem durante esse derradeiro percurso: não é o cão mitológico o guardião da morte? Seus versos traduzem sinais de exaustão, de desilusão e de um processo de depressão.
Morre, na noite de 7 para 8 de dezembro de 1930, vítima, do efeito de barbitúricos, não se sabendo jamais se por suicídio ou por acidente, pela ingestão de dose excessiva.
Considerada como a figura feminina mais importante da Literatura Portuguesa, Florbela Espanca deixou poesias de uma sensibilidade exacerbada, repletas de um erotismo confessional, que deixa transparecer tendências e sentimentos opostos, flagrados como se em um diário íntimo. Segue nas pegadas dos grandes sonetistas da Língua Portuguesa, como Camões, Bocage, Antero, embora difira deles, em muitos pontos, principalmente por ser mulher, e abordar apenas o Amor, não fala “sobre o amor”, mas “do amor”, de maneira espontânea, destravada, como seiva que brota pura dos recônditos da imaginação, sem as coerções da moda ou das conveniências literárias, o que levou muitos críticos a falarem de sua obra como repleta de "don-juanismo", pelo sensualismo que desconhece grilhões, desprovido de falsos moralismos, cálido, franco, superando hipocrisias e convenções pequeno-burguesas. Sensibilidade e imaginação são os pontos altos de seus momentos de criação, na melhor expressão literária, não permitindo, em momento algum, que sua obra possa se reduzir a apenas uma confidência equívoca de sentimentos mantidos secretos pelo pudor feminino.
Verdade da própria experiência e fantasia unem-se para gerarem poesias de primeira grandeza como nenhuma outra representante do sexo feminino o fez, na Literatura Portuguesa.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Florbela Espanca em 4 poemas


Procurei o amor que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava.
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer…
Um sol a apagar-se e outro a acender
Nas brumas dos atalhos por onde ando…

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há de partir também… nem eu sei quando…

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Bendita seja a mãe que te gerou!
Bendito o leite que te fez crescer!
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama pra te adormecer!

Bendito seja o brilho do luar
Da noite em que nasceste tão suave,
Que deu essa candura ao teu olhar
E à tua voz esse gorjeio d’ave!

Benditos sejam todos que te amarem!
Os que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão, fervente, louca!

E se mais, que eu, um dia te quiser
Alguém, bendita seja essa mulher!
Bendito seja o beijo dessa boca!
Saudades! Sim... Talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Escute os 4 poemas acima, na voz de Miguel Falabella