sexta-feira, 29 de junho de 2012

Adormecida




Uma noite, eu me lembro... Ela dormia

Numa rede encostada molemente...

Quase aberto o roupão... solto o cabelo

E o pé descalço do tapete rente.


... 'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste

Exalavam as silvas da campina...

E ao longe, num pedaço do horizonte,

Via-se a noite plácida e divina.



De um jasmineiro os galhos encurvados,

Indiscretos entravam pela sala,

E de leve oscilando ao tom das auras,

Iam na face trêmulos — beijá-la.



Era um quadro celeste!... A cada afago

Mesmo em sonhos a moça estremecia...

Quando ela serenava... a flor beijava-a...

Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...



Dir-se-ia que naquele doce instante

Brincavam duas cândidas crianças...

A brisa, que agitava as folhas verdes,

Fazia-lhe ondear as negras tranças!



E o ramo ora chegava ora afastava-se...

Mas quando a via despeitada a meio,

P'ra não zangá-la... sacudia alegre

Uma chuva de pétalas no seio...



Eu, fitando esta cena, repetia

Naquela noite lânguida e sentida:

"Ó flor! — tu és a virgem das campinas!

"Virgem! — tu és a flor da minha vida!...
 
Castro Alves
 
 
(Poema do Sarau Poético de 29/06, postado por Jasse Miranda)

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