sexta-feira, 29 de junho de 2012

Longe de ti



Quando longe de ti eu vegeto,

Nessas horas de largos instantes,

O ponteiro, que passa os quadrantes,

... Marca séculos, se esquece de andar.

Fito o céu — é uma nave sem lâmpada.

Fito a terra — é uma várzea sem flores.

O universo é um abismo de dores,

Se a madona não brilha no altar.



Então lembro os momentos passados.

Lembro então tuas frases queridas,

Como o infante que as pedras luzidas

Uma a uma desfia na mão.

Como a virgem que as jóias de noiva

Conta alegre a sorrir de alegria,

Conto os risos que deste-me um dia

E que eu guardo no meu coração.



Lembro ainda o lugar onde estavas...

Teu cabelo, teu rir, teu vestido...

De teu lábio o fulgor incendido...

Destas mãos a beleza ideal...

Lembro ainda em teus olhos, querida,

Este olhar de tão lânguido raios,

Este olhar que me mata em desmaios

Doce, terno, amoroso, fatal!...



Quando a estrela serena da noite

Vem banhar minha fonte saudosa,

Julgo ver nessa luz misteriosa,

Doce amiga, um carinho dos teus!

E ao silêncio da noite que anseia

De volúpia, de anelos, de vida.

Eu confio o teu nome, querida,

Para as brisas levarem-no aos céus.



De ti longe minh’alma vegeta,

Vive só de saudade e lembrança,

Respirando a suave esperança

De viver como escravo a teus pés,

De sonhar teus menores desejos,

De velar em teus sonhos dourados,

"Mais humilde que os servos curvados!

"Inda mais orgulhoso que os reis"!


Autor: Castro Alves
 
(Sarau Poético de 29/06/2012, poema postado por Sueli Anjo)

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